sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Começo.

Testemunho a minha existência assim. Fotografo, congelo momentos, fixo sensações e expressões. Não reprimo, não fujo, não dou passos atrás para capturar a melhor fotografia. A melhor fotografia não existe.
Revejo-as. Sempre. Revivo momentos. Consigo sentir os mesmos cheiros, rir das mesmas coisas. Consigo chorar da mesma ânsia que sentia no momento. Consigo chorar da mesma tristeza. Choro com uma imensa saudade. Sinto falta.
Onde está o portal mágico?
É um suporte fraco, sem dúvida. Sem significado algum, materialista até. Egoísta, se exagerar.
Mas não é o papel que cria a fotografia. Apenas a expõe. Nós criamos a fotografia porque nós criamos o momento que queremos fotografar. Criamo-lo porque nos faz lembrar de alguma coisa. Porque sentimos saudades.
 Algo nos empurra, algo nos inspira, e daí, surge essa imensa necessidade de transformar o nosso mundo nalguma coisa concreta. Que quase podemos tocar.
 Mas o nosso mundo nunca existe.  Aquele que vemos por uma preta parede redonda não está lá quando nos afastamos. Está aquele que se desmancha em tintas e papel e esse tem todo o mesmo toque. Liso e brilhante ou liso e mate. Sem rugas, sem entraves, sem barreiras, com uma saída fácil. É um momento isolado, que nos prende de tal modo que não sabemos como fugir, ainda que saibamos que não existe nada que nos impeça.
 Conscientemente, saberíamos que estaríamos a fugir de nós mesmos, das nossas memórias, do mundo real que nos catalisa a vida, repleta de factos e acções concretas.
É o concreto que nos amarra e a fotografia o que liberta. Somos livres no exacto momento que prendemos o botão e aguardamos pela revelação. Revelação de algo que foi nosso durante uma fracção de segundo. Não interessa, foi nosso  e pode voltar a ser, sempre. Aí, controlamos e vivemos o real, o irreal, o imaginário, o triste, o saudoso, o alegre, o nosso.
Todos fotografamos, ainda que sem máquina. Fotografamos quando queremos guardar alguma coisa. Queremos sempre guardar alguma coisa. Guardamos sempre alguma coisa, ainda que má, ainda que triste.
A fotografia inspira-me. Exagera-me. Dramatiza-me. Dá-me vontade de (re)criar o novo, o nunca visto.
 Somos julgados pelos nossos gostos, pelas nossas acções, pelo modo de vida, pela nossa arte. Qualquer que seja a fotografia, ela faz parte de uma pequena porção nossa que deixamos que o mundo veja e julgue. Qualquer que seja a imagem, ela vai representar o nosso carácter, a nossa personalidade e consoante o momento, o nosso humor, o nosso estado de espírito, as nossas paixões e os nossos anseios. Aos mais atentos e perspicazes poderá ser até obvia a expressão dos medos e do que consideramos importante e com valor na nossa vida pessoal.
Termino assim, dizendo que a fotografia é algo que me satisfaz. É algo por que sou apaixonada, porque para mim, não é só papel, são partes da minha vida que torno eternas a todo o momento. 

1 comentário:

  1. É em transcender o que vês e tocar observando que se faz de um "clic" a "paixão de clicar", e é também a única altura em que mecanismo se subjuga à maleabilidade do sentimento.
    A máquina, a razão. o fotógrafo, a emoção. a imagem, inigualável mesmo no pior desequilíbrio.

    Porque as palavras formam elas mesmas e sem artifícios as imagens mais marcantes, são o complemento ideal, o remate esperado, o sentido procurado.

    Espero daqui e de ti a verdade do que vês e do que sentes espelhado no teu talento, nas tuas artes, que as tens muitas e cuidadas!

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