domingo, 17 de abril de 2011

Closer.



A compreensão. Ninguém a entende nem ninguém a possui por completo. Somos todos seres humanos e todos imperfeitos. Todos construídos à base de sobras de sentimentos e sonhos.
Todos temos conceitos e perdões limitados que usamos excessiva e não deliberadamente nos primeiros anos de paixões e arranhões maliciosos.
A toda a hora nos bombardeiam com más notícias que nos desfazem maxilares e nos tiram o ar dos pequenos pulmões que carregamos no peito.
Não precisam de nos compreender para nos oferecerem compreensão. A compreensão não são palavras sábias e grandiosas lições de vida, para pormos no grande saco, junto de outras grandes lições que de nada nos servirão.
A compreensão são aconchegos do coração. São suspiros de alívio, abraços intermináveis. Não são entendimentos ditos por palavras frescas e duras, que nos atropelam, que nos confundem ainda mais, que nos enterram na nossa tristeza. 
São beijos na testa, são olhares carinhosos e risos conjuntos. 
A compreensão é o dar a mão, o “vai ficar tudo bem”, o “eu estou aqui”, o “não te preocupes”. A compreensão é ficar dias encaixados um no outro, com brancos vindos de nenhures, enrolando a nossa alma, aquecendo os pés frios, limpando-nos as lágrimas, dando esperança de dias melhores, com sol ou com chuva.
A compreensão é o “eu vou estar sempre aqui”, o “não tenhas medo” e o “não precisas de dizer nada, chora”.
Todos esperamos compreensão de outros, quer sejam pais, avós, tios, primos, irmãos, sócios, companheiros, parceiros, amigos, conhecidos, patrões, colegas, cães, gatos, pássaros, desconhecidos. Todos pedimos compreensão à vida, para que nos poupe do que mais ninguém vai entender. Porque quem ninguém entende, está sozinho. Não tenta, não luta, ignora, murcha, é esquecido, ultrapassado, judiado, é morto por olhares espantados e baleado por juízos insensíveis e manipuladores.

Mas antes de tentar compreender alguém, é preciso compreendermo-nos a nós mesmos. Percebermos porque estamos tristes, contentes, alegres, miseráveis. Perceber porque estamos de luto, porque queremos destruir o mundo, reconstruir uma vida, retocar quadros, limpar pincéis, comprar cores novas, misturar, criar. Perceber porque temos medo de nos comprometer com alguém, perceber porque fugimos das promessas e das juras de amor eterno. Perceber porque rimos sem razão. Perceber porque nos afastamos de quem mais queremos abraçar. Perceber porque somos como somos, o que vive dentro de nós que ainda não foi descoberto, tentar entrar nos lugares que há tanto estão bloqueados. Perceber tudo, antes de fazer uma cópia ingénua de uma chave para o nosso coração.

Compreender não é entender. Compreender é estar lá, é ficar até ao fim, sem medo.
Entender é violento, é quebrar regras, extorquir informação, roubar tudo e montar o puzzle, para nosso próprio deleito e luxo. Quem quer entender não se preocupa realmente. Corre pelas respostas, pelos “porquês”, pelo que o intriga, o deixa curioso.
Ninguém necessita de entender, não os faz mais felizes, não os ajuda, porque, afinal, não compreendem as respostas que encontram.
Não peço que me entendam, porque nem eu tenho esse dom.
Peço, apenas, que me compreendam, que me queiram compreender, sem pressa, sem medo, sem maior ambição.


Sem comentários:

Enviar um comentário