sexta-feira, 11 de março de 2011

Demasiado longa (?)


Sinto dor. Sinto dor a toda a hora. E tu não vês. Ou não queres ver. Não queres sentir a dor que eu sinto. Não te queres afogar no mesmo mar que eu. Com medo de terramotos e tsunamis. Tens medo de tudo e não és forte. És tão como eu, que eu sou o total oposto de ti. Sou o que não queres e o que não queres tu ser.

Fto: Beatriz Rodrigues

Queres queimar e morrer. Voltar e sobreviver. Eu não quero sobreviver. Quero viver o mais que tu não quiseste. Quero aproveitar o bónus a que chamaste de pecado e alegria do diabo. Não acredito nisso. 
És melhor do que isso. És melhor do que chamas de tua força. Eu não sou a tua força, nem tu a minha. Não somos feitos de força. Não passamos força. A força não existe. 
Somos feitos de matéria fraca, que se desfigura facilmente. Facilmente corroemos se a água que vertemos for salgada, tão salgada quanto a tristeza que prendemos com correntes pesadas, tão pesadas que o próprio sonho não lhes encontra o fim.
Somos matéria fraca que morre a cada amor, a cada paixão, a cada toque de saudade, de medo.



Tenho saudades de tudo a todo o momento. Tudo me é importante, tudo faz perfeito sentido quando, mais tarde, sentimos saudades disso. Sim, disso mesmo. Disso que nos faz passar por idiotas mais e mais uma vez.
É aquilo que mais nos satisfaz que mais saudade nos deixa.
É aquilo por que temos um gosto especial que suprime todos os outros que mais saudade nos deixa.
É aquilo que adoramos que mais saudades nos deixa.

Mas por aquilo que amas, deixas de ter saudades. Passas a morrer. Secas. Páras. Deixas de ouvir, de pensar, de gostar, de sentir. Não lamentas mais.


Fto: Beatriz Rodrigues


Deixo-me cair no travesseiro mais próximo, criando montanhas e vales de pequenas penas envolvidas nos lençóis. Montanhas que ninguém atravessa. Demasiado altas, frias, quietas. Montanhas que nem tu escalas. Porque a saudade é tanta que deixa de o ser. É demasiado forte para ser saudade. É tão mais do que isso. É um coma tão singelo que chega a ser mais lento que o purgatório. Não me levanto nem me mexo. Nenhum vento me abala. Nenhuma folha cai.

Uma apatia extrema se instala em tudo o que me rodeia. Mas, nunca arrefeço. Estou quente de tristeza, de desamparo, de solidão. Há um silêncio que me cobre, que me aconchega, meigo. Que guardo para sempre. Sem razão. Porque o quero. Porque me faz ter saudade daquele momento em que não tinha saudades de nada. Só de ti.
Sou um monstro de saudade que se alimenta de maus sonhos e terrores bonzinhos.
Agora sou o que resta daquela grande montanha de lençóis e travesseiros amargos, pesados, amassados, torturados, a fazer faísca de tanta corrente que passou.


Fto: Beatriz Rodrigues

Mas ainda não me apetece levantar. Já é primavera, e a montanha já está coberta de flores e cores apagadas do medo. Do medo que eu tenho porque a força que tu não tens não se passa. Não se transfere.


E sinto a mesma dor. A dor que sentia desde o inicio. Aquela dor que tu continuas sem ver, sem sentir. Essa já não me agonia, só me entristece. Porque não a notas. Porque não a curas.
 Olha para mim, por favor.
Olha para mim, puxa-me. Rasga os lençóis que me afogam em pensamentos fáceis e fracos
Olha para mim
Escala a montanha por mim, já estou no cume, à tua espera. 
Fiz batota e corri mais rápido para chegar primeiro. Para te ver chegar. Porque te senti entrar.
E agora já tenho vontade de tudo. É o pico do verão no que era aquela montanha. Montanha que desfizeste com abraços e beijinhos.

E a saudade? Aquela que me estava a apagar, a matar. 
O que fizeste com ela? Quero-a de volta, porque gosto de sentir saudade, gosto de sentir o que me faz falta, porque me entristece não saber o que me faz falta. É o sinal de alerta constante que gosto de receber vindo de não sei onde, que me faz saber para onde tenho de caminhar, seja para onde for.


A dor vai passando, aos poucos. Dá passos tão curtos que só tu notas. E vais-me fazendo ver que são passos maiores que eu, maiores que o meu ego egoísta e pequeno. Pequeno como eu. Pequeno como a voz fraca que tenho quando te tento chamar. Porque já estou no cume e ainda não te vejo chegar.
Não chegas porque não vens. Porque te recusas a dar um pequeníssimo passo, porque me vais tornar mais fraca, menos eu. Porque afinal não rasgaste os lençóis. Só deste um pequeno golpe e eu fiz tudo sozinha. Era isso que me querias fazer ver. Fizeste de mim heroína, mas foste tu o herói. Mas calas-te e observas-me. Tens orgulho de mim e do que conquistei.

Ainda sinto o perfume de saudade que deixaste ficar. E fizeste bem.
Porque eu gosto de montanhas desfeitas e um aroma de saudade.
Porque são as coisas que adoras que mais saudades te deixam. 



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